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domingo, 19 de maio de 2013

Arco canhoto para um destro!

Isso mesmo,

         Terminei recentemente um arco para um grande amigo, e de todas as particularidades esta é a que marcou o trabalho. Este amigo embora seja destro para as demais atividades, relata que para o tiro com arco (ou com estilingue também) simplesmente não consegue se sentir seguro atirando da forma usual de um destro, ou seja, empunhando o arco com a mão esquerda e puxando a corda com a direita, para tal então me solicitou que construísse seu arco como se fora para um canhoto.

         Confesso que relutei inicialmente com receio de "matar" o arco com a janela no lado oposto, mas depois de ser assegurado pelo amigo que aquele era realmente a maneira como ele empunhava, acabei por encarar a particularidade como um alívio para o meu natural ciúme dos arcos que faço, pois para mim de nada adiantaria ficar com um arco para canhoto.

         Passadas as etapas iniciais, de laminação do bambu para o backing, preparo da madeira e colagem, comecei a trabalhar com o pedido do amigo, de que o punho fosse laminado com madeiras de cores contrastantes. Inicialmente ele se prontificou em me enviar alguns pedaços de madeiras que ele tinha, mas depois acabamos por optar usar as madeiras que eu tinha já em mãos.

         As madeiras de escolha foram as já utilizadas anteriormente em outros arcos em configurações diversas, o próprio Ipê e Pau-brasil, para demarcar a laminação e trazer um contraste maior, acrescentei um folheado claro, de pau-marfim que deu um bom contorno aos desenhos revelados pela usinagem do punho.

         Uma "novidade" é que para proporcionar juntas mais limpas entre as colagens, substitui nesta parte o uso da cascophen pela resina epoxi, que é transparente e proporciona um melhor acabamento. apenas mantive a cascophen na colagem do punho ao arco, por necessitar de resistência extra naquele ponto.

Aqui logo após a colagem e corte inicial do perfil.



Já inciado o desbate, dando "cara" de riser ao laminado.


         É interessante comentar que cada arco se torna único não somente pela mão do bowyer, mas principalmente pelas características da matéria prima empregada. a madeira mesmo depois de cortada e seca, parece se manter de certa forma "viva", pois as reações aos procedimentos de confecção nunca são uniformes. Este arco por exemplo, feito com as mesmas características do anterior, guardou uma forma mais suave no reflex/deflex não se acentuando como no seu irmão mais velho.

Imediatamente ao ser retirado da forma de colagem, mostrou curvas mais suaves do que o seu antecessor


Após a modelagem do punho, e as etapas iniciais do tiller, me dediquei a uma técnica até então inédita para mim, inspirada no trabalho do futuro dono do arco, meu amigo e excelente cuteleiro Luciano Chaves, cujos trabalhos de qualidade top podem ser apreciados AQUI , mais especificamente inspirado neste belíssimo tomahawk de sua lavra:

É evidente que ainda estou a léguas de distância da qualidade, simetria e acabamento conseguidos pelo nobre amigo cuteleiro.

Os inserts deste machado são de marfim, material que obviamente não tenho acesso, e por este motivo utilizei o menos nobre osso para o meu trabalho.


          
         Notem que propositalmente desloquei o "centro" dos inserts para o centro de apoio da mão, e não o centro geométrico do punho, de forma que se empunhando o arco, fiquem visíveis, e não entrem em "conflito visual" com os detalhes da janela no lado oposto. 
         Apesar de não ser tão elaborado como os inserts do machado que lhe deu inspiração, gostei do resultado, que trouxe uma sutil delicadeza ao trabalho.

         Na face oposta ao punho, no back do arco, foi acrescentado uma tira de pau-brasil para melhor ergonomia e composição estética.

         Como no arco anterior, acrescentei uma proteção de couro no local onde se apoia a flecha, que protege a flecha e também a janela do arco dos impactos provenientes do disparo, bem como compõe o visual.


         
          Finalizei o trabalho com nocks com pau-brasil, de forma bem alongada e suave.




         O arco finalizou com aproximadamente 45" @ 28", tendo 67" de comprimento de nock a nock.



     

          Assim como os anteriores, o arco fez jus as características do conjunto ipe+bambu, proporcionando um arco de secção bem fina, tornando-o leve, macio de se puxar e de tiro bem rápido. A corda é de Dacron com serving de poliéster encerado.

         Abaixo mais algumas fotos do trabalho concluído, espero que gostem: