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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Meu Primeiro Arco primitivo

Achei interessante iniciar as postagens mais "técnicas" com uma homenagem ao primeiro arco que confeccionei utilizando as técnicas primitivas.

No ano de 2001, pouco depois de encontrar o artigo mencionado no post anterior, iniciei minha busca por um pedaço de madeira apropriado para fazer meu primeiro arco, e as madeiras recomendadas eram respectivamente o Pau-brasil, o Ipê roxo e a aroeira. Mas eu não tinha acesso a nenhuma destas madeiras. Em pesquisas na internet, e trocando e-mails com o amigo que escreveu o artigo, fui informado que boa parte das árvores frutíferas fornecem bom material à confecção de arcos. Isto para mim foi uma excelente notícia, pois meu quintal era bem arborizado e eu tinha algumas fruteiras disponíveis.

Por suas características estruturais, e pela árvore contar com um galho grande e relativamente reto que poderia ser retirado sem matar a árvore, escolhi como "vítima" um pé de ameixa, cuja madeira é muito clara e bonita.



Derrubei o galho referido, que tinha em torno de 2 metros com 10 cm de diâmetro aproximadamente, lasquei-o ao meio com o auxílio de um machado e de cunhas de madeira. com o tronco devidamente dividido em 2 no sentido longitudinal, aguardei pacientemente alguns meses para a secagem da madeira, cuidado este essencial para o sucesso do arco, pois madeiras "verdes" tem muita memória cedendo á curvatura do arco mantendo a forma curva mesmo sem estar encordoado, isso faz com que se perca muita força e velocidade.


Arcos são nada mais do que molas, devidamente fixadas a uma corda, que converte a força acumulada pelas lâminas do arco, em movimento com alta velocidade transferido á flecha. Mas se fizermos o arco com medidas uniformes, com relação à largura e espessura de suas laminas, iremos concentrar o esforço no ponto central do arco, no punho, pois ao puxar a corda, ela divide de maneira progressiva a força de flexão sobre o arco, tanto pelo ângulo formado entre a corda e a lâmina, quanto pela distância entre a corda e o punho, que é o ponto de apoio da alavanca, portanto, para que o esforço seja dividido de maneira uniforme por toda a extensão do arco, não causando pontos fracos e aproveitando o máximo possível da deformação elástica da madeira, devemos ir afinando as lâminas quanto mais se aproxima das pontas do arco.

Imagem retirada da internet:


Optei pelo modelo longbow inglês, pelo romantismo dos filmes com histórias medievais e lendárias como Robim Hood. Mas este de longe não é o mais eficaz dos modelos de arcos, arrisco dizer inclusive que é um dos piores, precisa ser longo (normalmente do tamanho do arqueiro ou maior) justamente porque o formato de sua lâmina em "D" sobrecarrega muito a estrutura, pois quanto mais distante se encontram as faces das costas (back - parte que fica de frente para o alvo) e ventre (belly - parte que fica virada para o arqueiro), mais pressão de tração sofre o back e compressão sofre o belly, causando muitas vezes a ruptura do arco.

Depois de muitos dias de trabalho, onde as laminas foram lentamente raspadas com facas bem afiadas e até mesmo com cacos de vidro, e a curvatura foi sendo analisada cuidadosamente a cada sequencia de desbastes até atingir a forma desejada.

Não vou exaurir todas as técnicas e etapas deste tipo de construção, pois isto tornaria o texto muito longo e cansativo de ler, vamos nos aprofundando lentamente conforme o blog for sendo atualizado.

Esta é uma das poucas fotos que tenho dele, da época em que o construí a mais de 10 anos atrás e quase 30 quilos mais magro.


O arco ficou com aproximadamente 60 libras, e nem preciso dizer que eu não conseguia com esse chassi de grilo puxa-lo completamente. Mesmo assim me trouxe muitas alegrias, e ainda está guardado comigo sem quebrar, aposentado por tempo de serviço.

Um abraço a todos e bons tiros!



7 comentários:

  1. Olá Maia,

    Parabéns pelo trabalho.

    Estou iniciando no mundo da arquearia agora e pesquisando um pouco.

    Nessas pesquisas ficou claro para mim que tenho interesse maior nos arcos tradicionais e artesanais.

    Aguardo mais postagens.

    Como posso entrar em contato contigo?

    Abraço

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  2. Obrigado por acessar o blog, sempre que possível estarei postando artigos relacionados.

    Os arcos primitivos e tradicionais estão diretamente ligados à nossa ancestralidade, diferente dos modernos arcos compostos os arcos tradicionais nos trazem pra mais perto de nossas origens.

    Pode me contactar através do meu e-mail willian.maia@gmail.com

    Um abraço!

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  3. gostaria de saber se você seguiu os aneis de crescimento da madeira para fazer o backing???

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    Respostas
    1. Luis,

      Neste arco especificamente eu não fiz nenhum tipo de backing, por este motivo principalmente os anéis de crescimento tiveram que se ser seguidos na íntegra.

      Na verdade em arcos primitivos é mandatório que se siga os anéis de crescimento, tendo ou não backing, em todos os casos é recomendável, mas apenas há uma pequena margem de segurança para não seguir completamente os anéis quando se faz backing de bambu ou fibra de vidro.

      Maia.

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  4. Ola, Poderia me indicar madeiras para fazer arcos primitivos? para o uso próprio.

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  5. Mikael,

    O melhor custo beneficio que eu conheço é o ipê. Já fiz arcos com outras madeiras, inclusive pau-brasil, mas o ipê é mais fácil de encontrar.
    Mas não se arrisque fazer o arco sem nenhum tipo de backing, a não ser que você vá confeccionar desde a extração do tronco.

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  6. Mikael,

    O melhor custo beneficio que eu conheço é o ipê. Já fiz arcos com outras madeiras, inclusive pau-brasil, mas o ipê é mais fácil de encontrar.
    Mas não se arrisque fazer o arco sem nenhum tipo de backing, a não ser que você vá confeccionar desde a extração do tronco.

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